Com a passagem deste meu 30º
Dia do Professor, uma constatação de um colega me fez refletir sobre o significado deste nosso
Dia, cuja ação do poder público, adiando tal data comemorativa - de grande importância em nosso calendário de lembranças de lutas -, tentou esvaziar. Tanto o governador, quanto o prefeito do RJ transferiram o nosso feriado do dia 15 de outubro para 16.
Que eu me lembre, em todos os governos, sempre havia uma “
mensagem”, do prefeito, do governador, ou, ainda, do Excelentíssimo Sr. Ministro da Educação, quando não do próprio Estadista Maior, fazendo
marketing pessoal, utilizando-se da mídia para elogiar o nosso papel social, claro, sem jamais tocar na questão da dignificação do magistério e de nossos aviltantes salários. Mas, ao menos, no
Dia dos Professores, existíamos enquanto protagonistas.
O fato de não ter havido elogios ao
Dia dos Professores, tanto na mídia televisiva, quanto nos jornais é sintomático.

Ressalva apenas para o jornal oficial da classe hegemônica em que havia uma propaganda de um tablóide voltado para concursos, citando a data, símbolo de nossa resistêcia.
Parece-me que tal invisibilidade tem a ver com o deslocamento do foco da educação: ela, em tempos de neoliberalismo, não mais diz respeito ao professor, tampouco ao aluno: ela está a serviço do sistema que representa os interesses da classe dominante, e que, no Brasil, destacam-se os grupos de políticos com interesses em comum e os banqueiros e seus acionistas majoritários, enfim, a burguesia esclarecida, que faz da educação mercadoria; do ambiente, fonte de lucro e do ser humano, desumano.

Tal invisibilidade só é desfeita quando alguma professora resolve mudar de profissão para ser dançarina bem sucedida, ou algum professor é alvo de acusações ou de agressões que “chocam” a sociedade que, ávida, sai, às pressas, às bancas de jornais para conhecer os detalhes.
O crime que cometemos, verdadeiramente, este a sociedade não tem como nos punir, porque “pega mal”: é a do esclarecimento!
Por tais atitudes de rebeldia, muitos se orgulhariam da lembrança. Ao instigar nossos alunos ao debate crítico, desvelamos muito mais do que o político corrupto, com suas mentiras deslavadas: oferecemos condições para que o nosso aluno reflita criticamente sobre as tais inverdades cristalizadas pelo senso comum que nos impele a acreditar que “
não há o que fazer, mesmo, porque sempre foi assim”, como se o homem vivesse alheio à história! Levamos, à sala de aula, o "
pensar certo" paulofreiriano.
Estrategicamente, o poder se cala diante daquilo que o incomoda, muito mais para não reforçar sua incapacidade de conviver, sem impasses, com quem o ameaça diretamente e com eficácia, além de não ter mais como fingir, através de discursos bonitos, sua homenagem ao “Dia do Mestre”.
Homenagear a nossa classe com um aviltante reajuste a ser pago em 4 anos? Com bombas? Com uma folha de pagamento que não chega a comprometer 23% do que é destinado à educação? Talvez aí resida uma das explicações para este silêncio - nada inocente - no
Dia dos Professores.

Ora, já houve um tempo em que não éramos (tão) explorados por um determinado sistema com o qual (in)conscientemente, não só concordamos, e incomporamos seus valores como somos co-partícipes desta ideologia, ao dar marcha ao seu modo de produção predatório, espoliador, enfim, draconiano com muitos e permissivo com poucos.
Já houve um tempo em que trabalhávamos o suficiente para o nosso sustento e não para deixar uma grande parcela deste nosso suor a ser apropriada por quem não trabalha.
Como tenho a certeza de que existem mudanças e elas vem se fazendo notar, não posso encerrar esta sem agradecer a tant@s alun@s e colegas, pelas ternas palavras de quem milita, tanto nos espaços não-formais de educação, assim como nas escolas e em pré-vestibulares sociais, fazendo destes espaços autênticas trincheiras, para a construção de uma consciência coletiva, porque autônoma.
Agradeço, então, muito mais pela ação do que pelas belas palavras, a vocês: educador@s, educand@s, colegas em curso de formação para o magistério, mestras e mestres, professores e professoras.
Julio Cesar Roitberg, professor