sábado, 17 de outubro de 2009

A invisibilidade profissional do magistério na comemoração do Dia do Professor

Com a passagem deste meu 30º Dia do Professor, uma constatação de um colega me fez refletir sobre o significado deste nosso Dia, cuja ação do poder público, adiando tal data comemorativa - de grande importância em nosso calendário de lembranças de lutas -, tentou esvaziar. Tanto o governador, quanto o prefeito do RJ transferiram o nosso feriado do dia 15 de outubro para 16.
Que eu me lembre, em todos os governos, sempre havia uma “mensagem”, do prefeito, do governador, ou, ainda, do Excelentíssimo Sr. Ministro da Educação, quando não do próprio Estadista Maior, fazendo marketing pessoal, utilizando-se da mídia para elogiar o nosso papel social, claro, sem jamais tocar na questão da dignificação do magistério e de nossos aviltantes salários. Mas, ao menos, no Dia dos Professores, existíamos enquanto protagonistas.
O fato de não ter havido elogios ao Dia dos Professores, tanto na mídia televisiva, quanto nos jornais é sintomático.

Ressalva apenas para o jornal oficial da classe hegemônica em que havia uma propaganda de um tablóide voltado para concursos, citando a data, símbolo de nossa resistêcia.
Parece-me que tal invisibilidade tem a ver com o deslocamento do foco da educação: ela, em tempos de neoliberalismo, não mais diz respeito ao professor, tampouco ao aluno: ela está a serviço do sistema que representa os interesses da classe dominante, e que, no Brasil, destacam-se os grupos de políticos com interesses em comum e os banqueiros e seus acionistas majoritários, enfim, a burguesia esclarecida, que faz da educação mercadoria; do ambiente, fonte de lucro e do ser humano, desumano.

Tal invisibilidade só é desfeita quando alguma professora resolve mudar de profissão para ser dançarina bem sucedida, ou algum professor é alvo de acusações ou de agressões que “chocam” a sociedade que, ávida, sai, às pressas, às bancas de jornais para conhecer os detalhes.
O crime que cometemos, verdadeiramente, este a sociedade não tem como nos punir, porque “pega mal”: é a do esclarecimento!
Por tais atitudes de rebeldia, muitos se orgulhariam da lembrança. Ao instigar nossos alunos ao debate crítico, desvelamos muito mais do que o político corrupto, com suas mentiras deslavadas: oferecemos condições para que o nosso aluno reflita criticamente sobre as tais inverdades cristalizadas pelo senso comum que nos impele a acreditar que “não há o que fazer, mesmo, porque sempre foi assim”, como se o homem vivesse alheio à história! Levamos, à sala de aula, o "pensar certo" paulofreiriano.
Estrategicamente, o poder se cala diante daquilo que o incomoda, muito mais para não reforçar sua incapacidade de conviver, sem impasses, com quem o ameaça diretamente e com eficácia, além de não ter mais como fingir, através de discursos bonitos, sua homenagem ao “Dia do Mestre”.
Homenagear a nossa classe com um aviltante reajuste a ser pago em 4 anos? Com bombas? Com uma folha de pagamento que não chega a comprometer 23% do que é destinado à educação? Talvez aí resida uma das explicações para este silêncio - nada inocente - no Dia dos Professores.

Ora, já houve um tempo em que não éramos (tão) explorados por um determinado sistema com o qual (in)conscientemente, não só concordamos, e incomporamos seus valores como somos co-partícipes desta ideologia, ao dar marcha ao seu modo de produção predatório, espoliador, enfim, draconiano com muitos e permissivo com poucos.
Já houve um tempo em que trabalhávamos o suficiente para o nosso sustento e não para deixar uma grande parcela deste nosso suor a ser apropriada por quem não trabalha.
Como tenho a certeza de que existem mudanças e elas vem se fazendo notar, não posso encerrar esta sem agradecer a tant@s alun@s e colegas, pelas ternas palavras de quem milita, tanto nos espaços não-formais de educação, assim como nas escolas e em pré-vestibulares sociais, fazendo destes espaços autênticas trincheiras, para a construção de uma consciência coletiva, porque autônoma.
Agradeço, então, muito mais pela ação do que pelas belas palavras, a vocês: educador@s, educand@s, colegas em curso de formação para o magistério, mestras e mestres, professores e professoras.



Julio Cesar Roitberg, professor

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Paulo Freire

"Ensinar exige reconhecer que a educação é ideológica."

(Pedagogia da autonomia)