domingo, 24 de maio de 2009

Insônia Tratada

Nas páginas do romance Cem Anos de Solidão, a insônia é tratada pelo escritor Gabriel García Márquez como uma peste que acomete a mítica cidade de Macondo. Exageros à parte, o colombiano buscou inspiração em efeitos reais da insônia, muitas vezes subestimados. No livro, o mal ganha proporções epidêmicas e evolui para uma manifestação mais crítica: o esquecimento. “Queria dizer que quando o doente se acostumava ao seu estado de vigília, começava a apagar-se da sua memória as lembranças da infância, em seguida o nome e as noções das coisas, e por último a identidade das pessoas e ainda a consciência do próprio ser, até se afundar numa espécie de idiotice sem passado”, explica o narrador.

A verdadeira insônia não leva a esse grau de amnésia. Mas os danos na vida real podem ser mais severos do que os da insônia fictícia. Muitas vítimas recorrem a estimulantes para enfrentar o cansaço decorrente de uma noite maldormida e dar conta da profusão de compromissos diários. Mas as horas a mais de vigília têm um preço: a saúde física e mental do insone.

“A população com o transtorno de insônia tem todos os riscos possíveis e imagináveis mais elevados do que a população geral”, ressalta o neurofisiologista Flávio Alóe, do Centro de Estudos do Sono do Hospital das Clínicas de São Paulo. “O desfecho de um caso de insônia é a transformação desse transtorno em alguma coisa mais grave”. Segundo o neurofisiologista, entre 20% e 30% dos casos deságuam na depressão. “A insônia é um precursor”, explica.

Além disso, quando não dormimos, o cérebro não consolida as informações recebidas ao longo do dia, o que acaba refletindo em alterações de memória e das capacidades cognitivas, como aprendizado, raciocínio e pensamento. Também cresce o risco de problemas como diabetes e até câncer. 

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Paulo Freire

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