sábado, 9 de maio de 2009

Artigo Instigante...

Pessoal veja que artigo interessante sobre a relação do poder público com moradia popular feito pelo companheiro Crô que trabalha no gabinete do Deputado Federal Chico Alencar do PSOL. Originalmente foi retirado do seguinte endereço virtual:
http://www.socialismo.org.br/portal/habitacao-e-saneamento/119-artigo/869-favela-bola-da-vez
Boa leitura e reflexão. Sérgio.

"Favela: bola da vez
Habitação e Saneamento
Ricardo Crô
Qui, 16 de abril de 2009 15:46

Ricardo CrôSai governante, entra governante e a implementação de políticas habitacionais – para os da classe menos favorecida –, fica somente nas promessas. Ao passo que os governados, de uma forma ou de outra, sem uma opção palpável e digna, buscam soluções, quase sempre precárias, para suprir a ausência criminosa do Estado. A inação histórica do Poder Público faz com que, vez por outra, brotem projetos mirabolantes dos cérebros quiméricos dos mandatários de plantão.A genial descoberta de Cabral de murar comunidades vem cercada de preconceitos e interesses, até agora, inconfessáveis. Não resolve, nem de longe, o problema habitacional. Nem soluciona, como maliciosamente se quer fazer crer, os dilemas ambientais. Convenhamos: ele tem o apoio de grande parte da sociedade e está respaldo pela maioria dos meios de comunicação. A poderosíssima mídia grande vem, sistematicamente, despejando matérias de conteúdos que variam entre mentirosos, desinformados e alarmistas, que invadem a cidadania e a induz a associar, indevidamente, trabalhadores à meliantes. A miopia seletiva os leva a enxergar que moradores em áreas de preservação e de risco, poluidores de rios e lagoas é apenas a população menos aquinhoada.Eles não querem ser taxados de elitistas, direitistas, autoritários. Até porque, muitos estão acomodados na Academia, nas redações, longe da realidade. Contudo, é o que demonstram ser. Esse fenômeno hediondo é facilmente constatado quando existe um conflito em alguma comunidade e, principalmente, quando ocorre em favelas da Zona Sul e adjacências. As manchetes, por si só, denunciam:– Tiroteio na Rocinha deixa sem dormir moradores de São Conrado. – Guerra de quadrilhas na Ladeira dos Tabajaras apavora moradores de cinco bairros. Matérias que, invariavelmente, vêm acompanhadas de análises de estudiosos e personalidades. Nunca – ou na maioria das vezes – a preocupação da imprensa ou das elites é dirigida aos moradores das comunidades. Aqueles que são vistos na telinha, feito bêbados equilibristas, sassaricando entre balas desorientadas, revistas regadas a coronhadas e xingamentos escalafobéticos. Se mirarmos na política de enfrentamento adotada pelos governos, prática que vem sendo amplificada na atual gestão, o alvo a ser perseguido será sempre o mesmo. É a política do extermínio, de criminalização da pobreza. Na comunidade, o uso da inteligência policial inexiste. Como se marginais pés-de-chinelo, aqueles que vivem pendurados nos morros e favelas, meros varejistas do tráfico transnacional de entorpecentes, fossem os únicos responsáveis pela violência que nos assola, a todos. Na outra ponta, constatamos o advento das milícias – braço deficiente do estado –, que conta com a benção de autoridades na sua procriação.Agora, não bastasse culpabilizar os favelados pela maioria das mazelas porque passa a sociedade – no que tange à violência, às ocupações desordenadas e que tais –, reinventa-se a roda viva com as remoções. Institutos de pesquisas, articulistas, formadores de opinião e, novamente, a mídia grande chegam ao ponto de afirmar que são os próprios residentes os maiores interessados nas desocupações desses espaços– Quem gosta de miséria é intelectual! Só faltava essa... pinçar uma frase descontextualizada para carnavalizar e justificar uma postura irascível. Nem gestões como as de Moreira Franco, Marcelo Alencar e dos Garotinhos Beneditinos – que perpassaram a demagogo democracia, a social privataria e populismo desvairado –, tiveram o desplante de cogitar tal façanha de forma tão torpe e clara.Nenhum morador de comunidade quer viver circundado por valas insalubres, rodeado de casas inabitáveis, delimitado pelo poder público meramente coercitivo, sitiado pelo despotismo do tráfico varejista de entorpecentes ou assediado pelo braço estatal deficiente das milícias. Ou seja, os muros já estão ao redor! Todos, favelados e do asfalto, queremos e merecemos viver com dignidade. Voltemos no tempo, a 1904: Pereira Passos é picado pela mosca azul e resolve inventar uma grande reforma. Em nome da higienização e do embelezamento, promove o que passou a se chamar “o bota abaixo”. Manda demolir o casario, onde hoje engarrafa-se a Avenida Rio Branco. Os moradores despejados ocupam o primeiro espaço livre que encontram e, junto com os oficiais de baixa patente oriundos da Guerra de Canudos e deixados ao léu pelo Estado, fundam a primeira comunidade do Rio, o Morro da Favela, hoje, Morro da Providência. Mais tarde, todavia, seguindo nessa mesma linha de irraciocínio, surgiram a Vila Vintém, Vila Aliança, Cidade de Deus, Sepetiba I e II. Deu no que deu. Não pelo simples fato de se tratar de gente pobre. Nem significa que favela é fábrica de marginais, como pontificou o Governador Cabral. Isso acontece porque as elites, os verdadeiros deformadores de opinião, não visam minimizar a pobreza, não desejam rever seus conceitos e preconceitos. Não desejam racionalizar seus privilégios para viver em comunhão.Desejam sim – como testemunha ocular da história que somos –, varrer pobre e pobreza, junto com seus modos e costumes, para as periferias. Segregar miséria e miseráveis entre muros e cancelas. Apartar a sociedade civilizada da plebe sifilizada. Sem abrir mão, claro, da mão de obra mais barata, mas qualificada, que floresce nesses locais. Como consequência dessa desfaçatez, continua sendo, a favela, bola da vez!
Ricardo Crô é escritor, compositor e favelado."

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(Pedagogia da autonomia)