sábado, 24 de setembro de 2011

Ao vencedor, as batatas!


            Machado de Assis (1839-1908), em Quincas Borba, publicada entre 15/06/1886 e 15/09/1891, na revista Estação, expõe a filosofia inventada por Quincas Borba, de que a vida é um campo de batalha onde só os mais fortes sobrevivem e os fracos e ingênuos são manipulados e aniquilados pelos superiores e espertos, que, em seu romance, ao final, terminam vivos e ricos.

            Quincas Borba, protagonista, expõe o princípio de Humanitas a Rubião: “Não há morte. O encontro de duas expansões, ou expansão de duas formas pode determinar a supressão de uma delas” (p. 19). Daí que, para explicar melhor, criou a célebre frase: “Ao vencedor, as batatas”, passando a ser este o foco principal da obra:

            “Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas chegam apenas para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrerão de inanição. A paz, neste caso, é a destruição; a guerra, é a conservação.” (p. 19)

            Então, uma das tribos extermina a outra e recolhe seus despojos, alegrando-se com a vitória, dançando e cantando. Segundo o Quincas, expondo sua filosofia, se a guerra não fosse isso, não existiriam tais demonstrações de alegria. “Ao vencido, ódio ou compaixão; Ao vencedor, as batatas.”

            Seria este, também, o princípio norteador da Escola: a conservação do si mesmo através da derrota do outro? O sucesso no fracasso do colega? A vitória diante do revés do amigo? Se a o objetivo da educação é tornar o educando um ser socialmente produtivo, um cidadão pleno em sua participação, anulando as individualidades, competindo pelos melhores resultados, o contrário não seria o desafio de tornar o currículo adaptável às necessidades de emancipação e desenvolvimento de uma consciência livre em busca da felicidade?

            Entretanto, a escolarização, que forja e reforça, no imaginário da juventude, a necessidade da produção e do consumo, da competição e do acúmulo, como valores de empoderamento, entendo como um deslocamento de sua função primordial, i.e., cf. Marcuse, em Eros e Civilização, ao invés do desenvolvimento  “de um homem com boa consciência para fazer da vida um fim em si mesmo, para viver com alegria uma vida sem medo.” (pp. 8-9)

Paulo Freire

"Ensinar exige reconhecer que a educação é ideológica."

(Pedagogia da autonomia)