segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A batata quente da educação.


            Machado de Assis (1839-1908), em Quincas Borba, publicada entre 15/06/1886 e 15/09/1891, na revista Estação, expõe a filosofia inventada por Quincas Borba, de que a vida é um campo de batalha onde só os mais fortes sobrevivem e os fracos e ingênuos são manipulados e aniquilados pelos superiores e espertos, que, em seu romance, ao final, terminam vivos e ricos.

            Quincas Borba, protagonista, expõe o princípio de Humanitas a Rubião: “Não há morte. O encontro de duas expansões, ou expansão de duas formas pode determinar a supressão de uma delas” (p. 19). Daí que, para explicar melhor, criou a célebre frase: “Ao vencedor, as batatas”, passando a ser este o foco principal da obra:

            “Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas chegam apenas para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrerão de inanição. A paz, neste caso, é a destruição; a guerra, é a conservação.” (p. 19)

            Então, uma das tribos extermina a outra e recolhe seus despojos, alegrando-se com a vitória, dançando e cantando. Segundo o Quincas, expondo sua filosofia, se a guerra não fosse isso, não existiriam tais demonstrações de alegria. “Ao vencido, ódio ou compaixão; Ao vencedor, as batatas.”

            Seria este, também, o princípio norteador da Escola: a conservação do si mesmo através da derrota do outro? O sucesso no fracasso do colega? A vitória diante do revés do amigo? Se a o objetivo da educação é tornar o educando um ser socialmente produtivo, um cidadão pleno em sua participação, anulando as individualidades, competindo pelos melhores resultados, o contrário não seria o desafio de tornar o currículo adaptável às necessidades de emancipação e desenvolvimento de uma consciência livre em busca da felicidade?

            Entretanto, a escolarização, que forja e reforça, no imaginário da juventude, a necessidade da produção e do consumo, da competição e do acúmulo, como valores de empoderamento, entendo como um deslocamento de sua função primordial, i.e., cf. Marcuse, em Eros e Civilização, ao invés do desenvolvimento  “de um homem com boa consciência para fazer da vida um fim em si mesmo, para viver com alegria uma vida sem medo.” (pp. 8-9)

Julio Cesar Roitberg

domingo, 22 de agosto de 2010

Plebiscito popular pelo limite da propriedade da terra - Ato político e cultural

Divulgação: Luiz Cláudio
Cel.: (21) 7616-2381 (Claro Rio)

Junte-se à ESQUERDA MARXISTA
www..marxismo.org.br

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Principal defensora dos "provões" muda de opinião e critica modelo

Divulgação: Sergio Auenheimer
SEPERJ
Sindicato Estadual dos
Profissionais de Educação do RJ.

Em 2/8/2010

Leia abaixo a entrevista no jornal Estado de São Paulo de uma das principais defensoras dos "provões " e avaliações de alunos e professores no Estados Unidos, Diane Ravitch - que influenciou inclusive os governos aqui no Brasil. Mas ela mudou de posição e afirma que "o sistema em vigor nos Estados Unidos está formando apenas alunos treinados para fazer uma avaliação", numa crítica muito próxima àquela que o Sepe faz ao sistema que a prefeitura tenta implementar na rede municipal de educação. Eis a entrevista, na íntegra:
Uma das principais defensoras da reforma educacional americana - baseada em metas, testes padronizados, responsabilização do professor pelo desempenho do aluno e fechamento de escolas mal avaliadas - mudou de ideia. Após 20 anos defendendo um modelo que serviu de inspiração para outros países, entre eles o Brasil, Diane Ravitch diz que, em vez de melhorar a educação,Secretária-adjunta de Educação e conselheira do secretário de Educação na administração de George Bush, Diane foi indicada pelo ex-presidente Bill Clinton para assumir o National Assessment Governing Board, instituto responsável pelos testes federais. Ajudou a implementar os programas No Child Left Behind e Accountability, que tinham como proposta usar práticas corporativas, baseadas em medição e mérito, para melhorar a educação.
Suas revisão de conceitos foi apresentada no livro The Death and Life of the Great American School System (a morte e a vida do grande sistema escolar americano), lançado no mês passado nos EUA. O livro, sem previsão de edição no Brasil, tem provocado intensos debates entre especialistas e gestores americanos. Leia entrevista concedida por Diane ao Estado.
Por que a senhora mudou de ideia sobre a reforma educacional americana?
Eu apoiei as avaliações, o sistema de accountability (responsabilização de professores e gestores pelo desempenho dos estudantes) e o programa de escolha por muitos anos, mas as evidências acumuladas nesse período sobre os efeitos de todas essas políticas me fizeram repensar. Não podia mais continuar apoiando essas abordagens. O ensino não melhorou e identificamos apenas muitas fraudes no processo.
Em sua opinião, o que deu errado com os programas No Child Left Behind e Accountability?
O No Child Left Behind não funcionou por muitos motivos. Primeiro, porque ele estabeleceu um objetivo utópico de ter 100% dos estudantes com proficiência até 2014. Qualquer professor poderia dizer que isso não aconteceria - e não aconteceu. Segundo, os Estados acabaram diminuindo suas exigências e rebaixando seus padrões para tentar atingir esse objetivo utópico. O terceiro ponto é que escolas estão sendo fechadas porque não atingiram a meta. Então, a legislação estava errada, porque apostou numa estratégia de avaliações e responsabilização, que levou a alguns tipos de trapaças, manobras para driblar o sistema e outros tipos de esforços duvidosos para alcançar um objetivo que jamais seria atingido. Isso também levou a uma redução do currículo, associado a recompensas e punições em avaliações de habilidades básicas em leitura e matemática. No fim, essa mistura resultou numa lei ruim, porque pune escolas, diretores e professores que não atingem as pontuações mínimas.
Qual é o papel das avaliações na educação? Em que elas contribuem? Quais são as limitações?
Avaliações padronizadas dão uma fotografia instantânea do desempenho. Elas são úteis como informação, mas não devem ser usadas para recompensas e punições, porque, quando as metas são altas, educadores vão encontrar um jeito de aumentar artificialmente as pontuações. Muitos vão passar horas preparando seus alunos para responderem a esses testes, e os alunos não vão aprender os conteúdos exigidos nas disciplinas, eles vão apenas aprender a fazer essas avaliações. Testes devem ser usados com sabedoria, apenas para dar um retrato da educação, para dar uma informação. Qualquer medição fica corrompida quando se envolve outras coisas num teste.

Na sua avaliação, professores também devem ser avaliados?
Professores devem ser testados quando ingressam na carreira, para o gestor saber se ele tem as habilidades e os conhecimentos necessários para ensinar o que deverá ensinar. Eles também devem ser periodicamente avaliados por seus supervisores para garantir que estão fazendo seu trabalho.
E o que ajudaria a melhorar a qualidade dos professores?

Isso depende do tipo de professor. Escolas precisam de administradores experientes, que sejam professores também, mais qualificados. Esses profissionais devem ajudar professores com mais dificuldades. 
Com base nos resultados da política educacional americana, o que realmente ajuda a melhorar a educação?
As melhores escolas têm alunos que nasceram em famílias que apoiam e estimulam a educação. Isso já ajuda muito a escola e o estudante. Toda escola precisa de um currículo muito sólido, bastante definido, em todas as disciplinas ensinadas, leitura, matemática, ciências, história, artes. Sem essa ênfase em um currículo básico e bem estruturado, todo o resto vai se resumir a desenvolver habilidades para realizar testes. Qualquer ênfase exagerada em processos de responsabilização é danosa para a educação. Isso leva apenas a um esforço grande em ensinar a responder testes, a diminuir as exigências e outras maneiras de melhorar a nota dos estudantes sem, necessariamente, melhorar a educação.
O que se pode aprender da reforma educacional americana?
A reforma americana continua na direção errada. A administração do presidente Obama continua aceitando a abordagem punitiva que começamos no governo Bush. Privatizações de escolas afetam negativamente o sistema público de ensino, com poucos avanços de maneira geral. E a responsabilização dos professores está sendo usada de maneira a destruí-los.

Quais são os conceitos que devem ser mantidos e quais devem ser revistos?
A lição mais importante que podemos tirar do que foi feito nos Estados Unidos é que o foco deve ser sempre em melhorar a educação e não simplesmente aumentar as pontuações nas provas de avaliação. Ficou claro para nós que elas não são necessariamente a mesma coisa. Precisamos de jovens que estudaram história, ciência, geografia, matemática, leitura, mas o que estamos formando é uma geração que aprendeu a responder testes de múltipla escolha. Para ter uma boa educação, precisamos saber o que é uma boa educação. E é muito mais que saber fazer uma prova. Precisamos nos preocupar com as necessidades dos estudantes, para que eles aproveitem a educação. 

QUEM É
É pesquisadora de educação da Universidade de Nova York. Autora de vários livros sobre sistemas educacionais, foi secretária-adjunta de Educação e conselheira do secretário de Educação entre 1991 e 1993, durante o governo de George Bush. Foi indicada pelo ex-presidente Bill Clinton para o National Assessment Governing Board, órgão responsável pela aplicação dos testes educacionais americanos.






 

Paulo Freire

"Ensinar exige reconhecer que a educação é ideológica."

(Pedagogia da autonomia)